29 abril, 2005

Tão querida


StephaneBourson

Fiquei angustiada. Em algum momento da nossa tarde algo virou cá dentro e apagaram-se as luzes. Não foi nada em concreto, veio-me aquela ideia que de vez em quando alguêm mete uma mão dentro de nós e passamos a falar como fantoches, a mão mexe e a voz é a nossa, mas o dia não é um dia favoravel e está tudo a postos para nos ganhar na luta. Dia de não fazer ondas, de não contrariar nada senão todo o universo nos contraria. Se isto é tensão? Pode ser. Aquela dos dias inimigos. Penso que é sempre é a importância que se dá. E eu hoje dou. a tudo! Ao rolo do papel higiénico que estava torto e que caiu quando lhe ía chegar e rolou até à porta. Acho que são lágrimas a querer sair, devo ter esgotado a capacidade de armazenamento.
Não te dou beijos? Desculpa. É que tu tens aquela imagem que faz sair de mim a parte que não é querida, não te sei dizer porquê, mas quando disseste isso saiu a querida e a querida ficou, por isso a angustia... E a fraqueza e a mensagem de há pouco. A querida não é muito minha amiga. É amiga das pessoas todas à minha volta, mas não é minha. Agora acabo de beber o chá e mato-a. Assim de repente com um susto. Para que eu não tenha medo das coisas que as queridas têm.

27 abril, 2005

Because once in your life


papel

Because once in your life, whatever he was to the world he becomes everything to you. When you look him in the eyes, traveling to the depths of his souls and you say a million things without a trace of sound, you know that your own life is inevitably consumed within the rhythmic beatings of his heart. You love him for a million reasons; no paper would do it justice. It is a thing, a feeling, that is only felt.
(autor desconhecido)

Sobre o amor... Mas pela comparação desta resma de papel com as folhas do meu exame que não acabava de maneira nenhuma... Por ambas as coisas.
Pelos documentos que são inuteis nos sentimentos. Pelas vidas que se entrelaçam, pelos milhões de razões para amar.

25 abril, 2005

Have you ever had a dream?


Foto-Lloyd

"Importante e genuino é mesmo o não sentir ou agir em função do resultado de pensamentos demasiadamente calculados". Tu é que dizes que são pensamentos demasiadamente calculados, é uma interpretação tua, provavelmente demasiadamente calculada, diría eu se me interessasse tanto como a ti acreditar nessa treta de distância entre naturalidade e cálculo, inocência ou dúvida podem ser igualmente naturais, penso eu não é... Apenas penso eu...

O questionamento do que nos cerca
(Nathan Octavio D. D. Rodrigues)

"Quando uma pessoa recebe um estímulo sensorial qualquer, o senso comum obriga a sua mente consciente a aceitá-lo como algo absolutamente verdadeiro e inquestionável. A grande maioria das pessoas, quando vê, ouve, cheira, toca ou prova alguma coisa, nunca se pergunta sobre a autenticidade daquelas informações que são passadas ao seu cérebro.

Quando alguém começa a duvidar daquilo que é chamado realidade, é imediatamente visto ou como louco ou como alguém muito mais inteligente que a média. De qualquer forma, é tido como uma pessoa com uma mentalidade impossível de ser alcançada, o que o faz sentir-se, ao mesmo tempo, incompreensível e incompreendido.

São exatamente essas sensações que obrigatoriamente permeiam a vida de um cético: sempre ser considerado alguém com uma visão sobre o mundo muito diferente da maioria. Talvez o que crie esse pensamento questionador na mente de alguém aparentemente comum seja uma situação análoga ao nó Górdio de Alexandre, o Grande: a forma mais fácil de desatar um nó é simplesmente cortá-lo e acabar com a corda que o contém. É isso que faz um cético: sua mente questiona várias informações sensoriais da realidade até que cai em um paradoxo, um “nó cego”, a isosthenia.

Ao chegar a esse ponto, a pessoa tem duas opções: a primeira é jogar essa corda de pensamento em um canto escuro de sua memória e nunca mais tirá-lo de lá; a segunda é cortar essa corda de pressupostos não comprováveis e liberar seu consciente à epoché. A maioria das pessoas prefere a primeira opção e esquecem aquele momento, às vezes, de meros segundos, que poderia ter libertado sua racionalidade do senso comum. Somente uma minoria opta pela segunda e se torna cética.

Essa escolha é repetida no filme The Matrix, onde Morpheus (Morfeu) mostra ao protagonista, Neo, uma pílula azul e uma pílula vermelha e lhe permite escolher: retornar à vida medíocre que tinha como programador ou conhecer toda a realidade fora daquela realidade. Curiosamente, o que seria mais próximo ao que ocorre na mente de um cético é o que consta no script original, onde, ao invés de simplesmente mostrar as opções, ele coloca as pílulas nas mãos de Neo, já que uma pessoa que está prestes a abraçar o ceticismo tem a escolha totalmente em suas mãos. Quando o personagem escolhe se libertar daquilo que está ao seu redor, ele descobre que seu corpo estava preso a uma grande máquina que fornecia a ele e a todas as pessoas as informações sensoriais sobre o que está ao seu redor. Como explica Morpheus: “Like everyone else, you were born into bondage... born into a prison that you cannot smell or taste or touch. A prison for your mind” (Assim como todo mundo, você nasceu num cativeiro... nasceu numa prisão que você não pode cheirar ou provar ou tocar. Uma prisão para sua mente). Assim, Neo assume um pensamento cético quanto a realidade da Matrix, pois descobre que não há nada ali que seja real.

A sensação que atravessa a mente de Neo é constantemente utilizada em outras obras, como por exemplo O Show de Truman: o Show da Vida (The Truman Show), com Jim Carrey, onde o personagem Truman Burbank é o núcleo de um reality-show, onde tudo que ele imagina ser sua cidade natal é um gigantesco estúdio de gravação com centenas de câmeras ocultas, espalhadas de modo a vigiar cada passo do protagonista. Inclusive todos os habitantes da cidade são atores contratados, mesmo os familiares de Truman, e todos seguem as ordens de um diretor megalomaníaco, que determina aquilo que acontecerá na vida do personagem. O único que é uma pessoa de verdade é o protagonista, cujo nome, Truman, é formado pela aglutinação das palavras inglesas true e man, ou seja, “homem de verdade”, “homem real”. Quando ele começa a observar “falhas na realidade”, ele assume um pensamento cético quanto à realidade da sua cidade, pois descobre que não há ninguém ali que seja real.

Os dois protagonistas passam por experiências parecidas ao descobrir que existe um Alguém que domina toda a sua realidade. Porém, antes de tudo, eles são seres humanos completos, tanto psíquica quanto fisicamente. O questionamento de The Matrix, se levado mais adiante, nos leva a questionar inclusive nossa existência física.

Assim, chegamos à idéia de Hilary Putman, onde seríamos unicamente cérebros imersos em grandes aquários de solução nutritiva e manipulados por um cientista que nos dá as informações sensoriais como lhe apraz [KRAUSE, 32]. Assim, nós teríamos inclusive medo de questioná-lo em nosso subconsciente, pois, caso ele detecte isso, poderia simplesmente retirar nossos cérebros de nossos aquários e jogá-los fora.

Se fundirmos essa última perspectiva com a sensação de Truman – a de ser o único humano verdadeiro na realidade –, chegamos a uma idéia ainda mais aterradora, o solipsismo extremo. Não haveria vários cérebros que se inter-relacionassem, mas somente o meu, e todas as outras pessoas seriam meros impulsos elétricos enviados ao meu cérebro, controlados pelo Alguém. O que torna isso mais assustador é que, então nem nada nem ninguém é verdadeiro, só eu sou. Eu.

Todos esses questionamentos sobre a realidade, se levados como verdade, podem levar facilmente alguém ao niilismo. Ou pior: ao pânico e ao auto-isolamento. Isolamento não só da sociedade, como da realidade, como de seus próprios pensamento, seguindo as linhas de raciocínio de Truman, Neo e Putnam, respectivamente.

Mas esse é o pensamento do cético visto pelo senso comum: como alguém que nega tudo que está a sua volta. Não é o ceticismo real, que duvida da realidade, mas não a ponto de negá-la [KRAUSE, 35]. O cético é aquele que questiona o que está ao seu redor, ao mesmo tempo em que questiona a validade do próprio questionamento.

Portanto, o melhor que temos a fazer, para sermos realmente céticos é seguir os conselhos que nos dá Morpheus: “You have to let it all go, Neo. Fear, doubt and disbelief” (Você tem que abandonar tudo isso, Neo. Medo, dúvida e descrença); “Try not to think in the terms of right and wrong” (Tente não pensar em termos de certo e errado).

E não há nada melhor para encerrar um ensaio cético do que um questionamento. E o faremos com um que, ainda que já tenha sido formulado de inúmeras formas, é explicitado em The Matrix como um conjunto de três perguntas: “Have you ever had a dream, Neo, that you were so sure that was real? What if you were unable to wake from that dream? How would you know the difference between the dream world and the real world?” (Você já teve um sonho, Neo, que você tivesse certeza que era real? E se você fosse incapaz de acordar daquele sonho? Como você saberia a diferença entre o mundo do sonho e o mundo real?)"

23 abril, 2005

Aprovada a lei (em Espanha)




Cartáz da próxima marcha do orgulho
E...
Dia memorável em Espanha: Aprovada a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O congresso espanhol aprovou hoje, 21 de Abril de 2005 a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Espanha passa a ser o terceiro país do mundo a aprovar esta medida, juntando-se à Holanda e à Belgica.
A alteração foi proposta pelos socialistas e foi aprovada pela maioria dos partidos, excepto o Partido Popular
Juan Lopez Aguilar, ministro da Justiça, disse no debate que com esta lei se ultrapassa uma discriminação que afecta os direitos e liberdades e se legitima a livre escolha em busca da felicidade, um direito fundamental não escrito.
A medida foi saudada pela associação Coordenadora Gay-Lésbica da Catalunha. Na óptica da associação, a lei significa "o respeito pelo princípio constitucional da igualdade, que deve ser para todas as pessoas".

A proposta foi aprovada com 183 votos a favor, 136 contra e seis abstenções. O projecto governamental terá agora de ser aprovado pelo Senado antes de regressar ao Congresso para aprovação final, mas não se esperam entraves, uma vez os socialistas têm maioria absoluta.
A proposta governamental modifica o Código Civil em 16 artigos, substituindo as palavras ‘marido’ e ‘mulher’ por ‘cônjuge’ e ‘pai’ e ‘mãe’ por ‘progenitores’. A alteração mais significativa é, no entanto, aquela que refere que “o matrimónio terá os mesmos requisitos e efeitos quando os contraentes sejam do mesmo ou de diferente sexo”.

20 abril, 2005

Puzzles

-
Steric


Os puzzles são como as pessoas e vice-versa.
E esse teu puzzle com janelas é como as pessoas com as suas janelas abertas e fechadas, às vezes só o suficiente e outras escancaradas.
Montamo-nos com muita paciência (nós) e chegamos a deixar cair peças e mesmo a perde-las por baixo da mesa. Muitas vezes não as queremos apanhar logo e perdem-se para sempre. Fica o buraco que não se pode encher com mais nada.
(A foto tambem com buracos... Na moldura).

18 abril, 2005

Separação

ErwinOlaf


Não estou lá realmente contigo... É o que dizes. Porque não sabes que eu fico em cada carinha que coloco, exactamente como nas fotografias.
Bem, às vezes adivinhas e dizes que eu fico tão aí nas coisas que consegues minhas.
É só precisa a mesma linha de raciocínio para veres que realmente fico nas caras, nas cores e nas emoções que passei para aqui para o universo das letrinhas.
Bytes... Bytes...
Mas ainda assim o mais de tudo não são bytes.

17 abril, 2005

Descansada

ViktorPushkin


A comentar o Picasso desfigurado, que não o fiz no outro dia. A achar que não te falta nenhum talento para a arte da escrita. Que isso é a tua modéstia a verde com pinceladas de bem parecer e descrição.
E tambem a dizer que aquelas cores das nossas mãos ficaram deliciosas... Que se opõem como nós nos opomos por vezes, mas que se entregam bem.
E com uma foto de uma posição à vontade, descansada, nada da luta que não gostaste. Pelo menos por agora.

16 abril, 2005

Feminismo

UweSpiller


Às vezes sou apanhada de surpresa por aquela realidade que detesto e que fáz as mulheres dependerem, dependerem até se esgotarem e serem felizes com qualquer coisa que não se vê. Parecem assumir que é preferivel lutar umas com as outras por papéis, apenas por papéis, porque os homens é que lhes são importantes. E saindo do sexo só um pouco para voltar ao sexo mais tarde. Fica qualquer coisa simples sobre o muito que é a luta.



"Às vezes ainda me perguntam porque é que a senhora se mete nessas coisas?" Leonor Beleza solta uma gargalhada fresca, de quem há muito descobriu no humor a melhor forma de enfrentar a opacidade do mundo. Mesmo quando o panorama é, diz, "do foro do escândalo". Refere-se "à ausência das mulheres nos lugares de decisão", visível tanto no Parlamento, do qual foi até há pouco vice-presidente, como nos governos, de que o socialista XVII é paradigma. Uma ausência que é um símbolo para o resto, como é símbolo a indiferença com que parece ser recebida. "Acho que já era tempo de as pessoas perceberem que não é razoável sermos representados de forma tão desproporcionada."

Mas o que parece fazer as vezes de razoabilidade, admite, é a ideia de que o feminismo, entendido na sua acepção mais abrangente como a luta pela igualdade de género, contra os papéis esteriotipados atribuídos aos sexos, é "coisa do passado", algo olhado com desconfiança, perplexidade ou, nas mais das vezes, mofa. As feministas são vistas, precisamente, como mulheres "irrazoáveis", "com problemas", "frustradas", a quem falta "qualquer coisa" - "um homem", como refere, a fazer coro com o riso de Beleza, a escritora e jornalista Maria Teresa Horta, que frisa ser o ridículo a arma mais usada contra esta luta. Há até a ideia, comenta, de que "o feminismo é uma batalha contra os homens".

quotas ou mérito? De certo modo trata-se disso mesmo. Afinal, frisa Beleza, uma das grandes questões da representatividade das mulheres na política - e não só - é que "para elas entrarem alguém tem de sair. E quem está não quer dar o lugar." Ou seja quem tem os privilégios não os quer ceder - é que não é bem a mesma coisa que dar a dianteira às senhoras quando se avizinha uma porta .

Defensora das quotas como mecanismo "temporário de rectificação", a actual presidente da Fundação Champalimaud, um dos nomes grados do PSD em falta nas listas de deputados para as últimas eleições, lamenta a exiguidade feminina na bancada do seu partido. Mas se o PS instaurou quotas e tem mais deputadas, vê no PSD mais facilidade em pôr mulheres a governar, "e em pastas fulcrais, como as Finanças". Como se fosse preciso escolher quotas ou lugares por mérito?

Pergunta envenenada mas implícita na declaração de José Sócrates após apresentar o elenco governativo ao presidente havia escolhido, disse, "os mais competentes, mais capazes e mais motivados". Criando assim nas socialistas um burburinho de indignação mais ou menos contida, de que a deputada do PS e ex-ministra da Igualdade Maria de Belém faz eco, mesmo se começa por apontar como "sinal positivo" o facto de se ter começado a contabilizar o número de mulheres nos governos. "É evidente que gostaria que houvesse mais mulheres. Isso foi oportunamente transmitido por mim e outras pessoas ao agora primeiro-ministro. Que reconhece que ele próprio gostaria de ter mais mulheres no Governo."

Como quem diz não havia. Competência, capacidade, motivação... no feminino. Verdade ou mentira? Afinal, essa é outra das questões inevitáveis nesta discussão. Porque é que há tantas mulheres nas universidades, mais que homens em grande parte dos cursos, e depois rareiam nos topos das carreiras? O que é que as trava?

"Não há mais mulheres nos lugares de notoriedade porque têm mais dificuldade em lá chegar. Porque é muito recente o reconhecimento profissional que se faz delas - são ainda vistas com desconfiança por causa da maternidade -, mas também pela dificuldade em conciliar a vida profissional e a familiar". Um círculo vicioso que, releva Maria de Belém, está longe de constituir originalidade nacional. "É assim em todo o mundo, mas nos países mais desenvolvidos nota-se menos."

Países como os nórdicos, que o actual primeiro-ministro apresenta como modelo, mas também como a Espanha, onde Jose Luis Zapatero, que se afirma feminista, dividiu o Governo ao meio. O que para algumas feministas não será necessariamente o lugar da virtude. Caso da socióloga Maria Filomena Mónica, que se afirma contra as quotas, "porque menorizam", e só tem uma receita "numa fase intermédia, as mulheres têm que ser duas vezes melhores para chegar ao mesmo sítio". Mesmo se há dias, na coluna que assina no Público, escrevia que ser melhor é condição banal e necessária para existir enquanto mulher, sobretudo se for mãe (que, indigna-se a socióloga, é algo quase compulsivo, pois "quem não quer ter filhos é olhada como anormal") "Tem de ser boa no emprego, boa mãe, boa na cama, ter bom aspecto, boa conversa... Ninguém consegue ser bom em tudo isso ao mesmo tempo." Uma multiplicidade de papéis "acrescentados" aos ditos tradicionais de fiel esposa e mãe extremíssima por isso a que se dá o nome de emancipação da mulher.

culpa de quê. "Uma conquista muito suada, mas que veio envenenada", nas palavras da jornalista Paula Moura Pinheiro, outra confessa feminista (porque, como ironiza a escritora e também jornalista Inês Pedrosa, o feminismo "confessa-se"ou"ousa-se"). Uma con- quista que ao seu cortejo de exigências - sem retorno do outro lado, já que os homens, sublinha Mónica, "continuam a arrastar os pés" no que respeita às tarefas domésticas - faz corresponder outras tantas culpabilidades.

Contra as quais a escritora e jornalista Helena Matos assesta baterias. "Todas as transformações sociais, tudo o que sucede à família é assacado às mulheres. De cada vez que se fala de problemas relacionados com o casamento, os jovens, os velhos, lá vem a conversa da 'saída das mulheres de casa'. E eu pergunto quando é que isso aconteceu? As mulheres sempre trabalharam imenso fora de casa. As criadas, as camponesas, as operárias também tinham filhos, dos quais não tinham tempo para cuidar. Quem ficava em casa eram as mulheres ricas." O caminho é então, para Matos, recusar a leitura "ginecológico-obstétrica" das mulheres, que as "prende" ao universo da família, e a ideia de "perfeição" que as próprias se exigem. O que é dizer que, nos países ditos desenvolvidos, as grandes batalhas da guerra pela igualdade se transferiram para dentro: dos corpos, dos olhares, dos sentimentos... das casas.

Leonor Beleza, que no pós-25 de Abril fez parte do processo "de fora", o de endireitar a lei, certifica que esta fase é mais árdua. "Porque vai ao osso das relações entre homens e mulheres. Quando havia discriminação legal, as raparigas não tinham acesso à educação, a taxa de emprego feminino era baixa, era fácil saber o que era preciso fazer."

o sonho e a fúria. Mesmo Maria Teresa Horta, que levou, nos idos de setenta, "uma tareia de três homens por causa das coisas que dizia e dos livros que escrevia", assume o paradoxo de ter sido mais fácil ser feminista nesses tempos cuja esperança é, "vista do futuro, comovente". "Depois", diz a poetisa, "passámos a lidar com o nosso sonho. Que se transformou numa realidade muito dura."

Beleza concorda. O hoje sabe a "desconsolo". Porque "as coisas não mudam, e não só não mudam como pioram". Sem negar o que "se adquiriu", a maioria das feministas portuguesas fala de "retrocesso". E questiona-se sobre o o estigma que as cerca e que Manuela Tavares da União Mulher Alternativa e Resposta, na sua tese de doutoramento sobre os feminismos da segunda metade do século XX em Portugal, está a investigar. "Fiz 800 inquéritos no secundário sobre o que é o feminismo, para tentar perceber a forma como o conceito é visto, e porquê. Pergunto se é uma luta pelos direitos das mulheres; contra os homens; pelos direitos humanos; ultrapassada".

As respostas ao inquérito só estarão tratadas daqui a uns meses. Mas a noção de que o feminismo é "coisa antiga", "um extremismo sem sentido", é comum. Uma perspectiva tanto mais curiosa quanto, de acordo com a maioria das feministas, aqui não terá sequer existido como movimento. "Passámos do pré-feminismo para o pós, sem termos o dito", diz Moura Pinheiro, a encontrar o busílis no défice de literacia, pensamento - "em suma, de civilização" - que diagnostica ao País."Ser civilizado é a conquista progressiva do direito a ser, a não ter de corresponder a categorias comportamentais predefinidas."

O feminismo como luta pela liberdade é também assim que o vê Anabela Rocha, ex-vice-presidente da Opus Gay, que nele inclui o combate dos homossexuais, dos transexuais, de todos os que desafiam os estereótipos de género. Uma luta na qual, revela um estudo recente de Ana Vicente (académica que presidiu à Comissão da Igualdade entre 1992 e 96), as mulheres têm de combater as mulheres: "Elas contribuem para este estado de coisas, claro. Desde logo, na educação diferenciada que dão aos filhos..."

Bem-vinda(o)s à responsabilidade, pois. E à encruzilhada de Paula Moura Pinheiro "Era preciso fazer alguma coisa com esta fúria. Mas o quê?"

-fernanda câncio-

15 abril, 2005

Ouvir por fora

MariaTallchief.

photo:Baron


Eu não quero ouvir cá fora mais do que o que tens lá dentro.
Posso tentar ouvir melhor, perceber os sons como se almoçasse uma musica, a saborear cada nota.
Mais do que o que lá há eu não quero ouvir. É que desorienta. A minha cabeça a criar espaços para parentises do que se tirou à verdade, secalhar do que ela tirou à verdade. Por aí desculpa-se e seja o que for que falte... espaço ou tempo ou alma, não tem interferido na dança.

13 abril, 2005

Até a ti te trais

BillBrandt


Parece ter perdido o encanto que teve durante os poucos dias...

Perder o encanto é a unica coisa horrivel no meio de tudo isto.
Abre a janela e vê que não mudámos nada, que não mudamos nada se não quisermos. Eu não preciso de saber para onde vomitas as tuas reflexões sobre mim se isso te fizer diferença. E não me sinto mal por ter sido sem querer que o disseste.
A rir, posso referir que até a ti te trais.
Mas só a rir.

12 abril, 2005

A vida que tu dás pelo que acreditas

The life of David Gale


Adormeci a ver o filme "the life of David gale", não por não estar a gostar, mas porque o cansaço não me deixava manter os olhos abertos. Andei a perder um minuto em cada dez minutos após a primeira hora. Quando conseguia abrir os olhos, a figura marcante de David Gale lá estava com um Kevin Spacey impassivel e perturbador. É a forma, são as formas... As dedicações... As lutas... A vida que se dá pelo que se acredita, o que na vida real é apenas a confirmação do discurso do professor no auditório.
É o amor pela causa, que pode ser qualquer uma, neste caso a luta contra a pena de morte. Até que ponto se consegue ir por aquilo em que se acredita e de que maneira as tuas causas te controlam a vida, mesmo parecendo que é a tua vida que controla as tuas causas. É a parte distraída do assunto, de cada pessoa, que indica de que forma se está a interiorizar. No fundo é o objectivo e onde o localizas, como diz o professor no auditório. A maior parte das pessoas dispersa rápido e por isso as paixões duram apenas o periodo em que se concentram. A dedicação na paixão e na causa (qualquer que ela seja) depende da grandeza da concentração. Alguns não acham que a vida é curta para uma dedicação fiel. São muito menos do que os que acham, secalhar infelizmente.

09 abril, 2005

Razão de vida

GeroGroeschel


No desdeñes las pasiones vulgares.
Tienes los años necesarios para saber que ellas se corresponden exactamente con la vida.
No reduzcas su ación
pues si del breve tiempo en que consistes las sustraes,
és todavia el existir mas deficiente.
Descubre su verdad tras la aparencia.
e asi no habrá falsia.
E no podrás mentir que fue razón de vida
lo que sólo fue tránsito.

-Francisco Brines-

E assim não me enganarei...

Diálogo

Dialogue


O diálogo é uma coisa estranha. Dialóga-se como se houvesse necessidade de nos projectarmos para o outro. É um jogo de bola cá bola lá
que não tem regras assumidas.
A não ser as que cada um, secretamente adopta.

08 abril, 2005

Não adivinho nada

SaschaHuttenhain


Não adivinho nada.
Ainda tenho a dormencia de ontem pelo corpo todo. E por isso não sou capáz.
O ponteiro dos segundos vai parar pelos minutos que me apetecer até que eu escreva mais uma palavra. Só não consigo decidir-me por qual...
Vou ter que desistir...
É uma boa noite para o Bocage. Entre os meus bocejos...
Secalhar nem isso.

06 abril, 2005

Nada

Falávamos de amor. EikoandKoma para mim é amor... E tambem são japoneses...
Brota-lhes da alma complectamente e é seguramente sincero, e nunca estudaram dança, eram estudantes de direito e politica e apesar de terem sido já premiados, continuam iguais com a mesma determinação de naturalidade, numa expressão que contagia e não pode deixar indiferente.
É alma, diria eu.

The caravan project Eiko&Koma-PhilipTrager




Nature is in our body as we move, breathe and rest. Often our rest separates one day from the next; sometimes we rest between lives. —Eiko

Tenho esta necessidade estranha como se precisasse de inventar uma nova maneira de juntar as palavras para me conseguir verdadeiramente expressar.
Olho para o título de ontem e ralho comigo propria para ver se para a proxima não junto as palavras assim. Cabeça erguida era razoavel. Determinação, personalidade.
Não "mostra" de amostra de como se sai de tudo. Pelo menos algo que podesse vir depois de "mostra" e não "de". Mas, se assim fosse não me riria de mim mesma. Isto é o cúmulo daquilo que dizes dos blogues, que se escrevem por gente que não tem nada para dizer. Mas eu não sei o que é o nada, quem determina o que é o nada? Tu sabes?
Nem o nada nem o muito. Fica assim, o título e o texto. E prometo que o Bocage há de sair um destes dias. Até já parece que faço de propósito!!

05 abril, 2005

mostra de como se sai de tudo

JoséSilvaPinto


Companhia de dança-DançArte, Luanda Angola

04 abril, 2005

Se de facto...

BrunoEspadana


Não consigo desligar-me das tuas palavras. Não tive muito tempo e não te consegui ajudar. Baralhei o nome do café onde disseste que estarías e tambem não percebi porque disseste que querias fugir do telemovel, fiquei sem poder contactar-te.
Foi um ataque de quê? Daqueles que eu tambem tenho, de mãos molhadas e terror. Afligi-me de pensar que sim mas descansei com a ideia de ser o que é habitual contigo, um mar de lágrimas e a solução ali ao lado.
Agora sou culpada e começo já a sentir-me culpada. As palavras foram "preciso de falar-te nisto" eu devia ter dito que queria ouvir, que queria muito ouvir.
Desculpa mas não foi possivel.
Á tarde veio a acusação e depois acabei a saber que ainda estavas perdida e que devia ser para durar. Fico calma, acho que vamos ter mais oportunidades. Não me consigo controlar quando a tua força se derrete e choras dias e dias e culpas amigas, amigos e o mundo todo, porque não te entendem. Exibicionismo, alcool, drogas, a pior roupa que ainda tens guardada não sei em que arca escondida, mensagens de lugares para onde vais e onde te podem encontrar se de facto se preocuparem... Se de facto se preocuparem. Se eu de facto me preocupasse tinha ido nem que uma tempestade me quisesse impedir. Mas sabes que a tempestade por vezes sou eu própria e de fato não achei que fosse assim preocupante.
De noite liguei para saber se já tinhas melhorado, voltado aos sorrisos. Atendeste do planeta mais distante do sol e disseste que aí ainda se vivia mas não tinhas previsões de regresso. E que eu era uma das ultimas pessoas com quem te apetecía falar. Fazes bem. Eu vou correr um pouco à chuva para me aquecer e me libertar das raivas. A amizade é um buraco negro onde caio de cu. Parto sempre um osso qualquer cá dentro e as ligaduras ficam mal presas a abanar por semanas.
Esmagas-me de vontade de mostrar que nunca mais vou querer saber.
Não te iludas, não é se eu de facto me preocupasse, é se tu de facto fosses sincera e frágil. Vou mesmo correr, já chove... Que as férias em Plutão te façam bem ao coração!

02 abril, 2005

Private dancer

miss TinaTurner


-Deutschmarks or dollars
American express will nicely thank you
Let me loosen up your collar
Tell me do you wanna see me do the shimmy again-


Ai a Tina... a tina...
Aquilo que provavelmente nunca me apetecia ouvir mas passava na radio e lá fez questão de marcar o tempo. E agora toca ali longe no "radinho" velho, deve já ser punível por lei pôr isto a tocar, interfere com as ondas magnéticas do dossier nostálgico da biblioteca humana. E não é que o rádio velho toca musica velha...? Será que este posto existe... ou já "morreu" há uma meia duzia de anos e só transmite pelo meu rádio fantasma?
Não. Está bem. É só a Tina. E a Tina é intemporal!

E agora quem diz que eu ía escrever sobre Bocage?! Estava a escrever mas começou esta musica e o poeta foi eliminado pela voz de Nutbush Tennessee. Ter-se-á importado? Acho que não, mas agora reparo que já é a segunda vez que vou para escrever sobre ele e ou o post não sai ou o rádio velho me prega a partida.
É que nem dá para relacionar! Não liga coisa nenhuma o poeta magro com o private dancer! Bom, só se for nos meus sonhos. Talvez aí ele queira dançar com a bailarina privada e se estreitem os laços. E quando eu me preparava para dizer que nem imaginando... percebo a magia da possibilidade, olha lá a letra! Eles não lhes perguntam os nomes e elas nunca olham para as caras deles. Os homens são todos iguais. Assim é possivel imaginar o Bocage a dançar com a Tina... pois é... E ao som de qualquer musica.

Well the men come in these places, and the men are all the same
... ...
I'm your private dancer, a dancer for money I’ll do what you want me to do
I’m your private dancer
A dancer for money
any old music will do.

Deutschmarks or dollars, ou Euros!