28 julho, 2007

The Last Legion



Por cá ainda não...

18 julho, 2007

O desejo sem a falta




O desejo sem a falta é coisa de gente muito madura. É como imaginar sede ou fome e ter sempre tudo à disposição.
Eu acho que há, mas quem sente tem que querer chegar um pouco mais longe, porque na verdade nunca se tem tudo. O problema do desejo é ele ser tão pouco e apenas pelo vibrar de uma qualquer vontade ou paixão ou satisfação, aquilo que se quer conseguir, como uma volta num carrocel ou um brinquedo para uma criânça. O desejo sem a falta presupõe uma certeza e nós gostamos de dizer que não temos a certeza. O desejo é uma fome, é uma vontade, e nós gostamos de dizer que ás vezes não nos apetece. Talvez, dizes bem, os olhos gostem de registar outras coisas. Talvez exista quem olhe de outra forma ou quem veja cores a todo o momento no mesmo jardim. Tambem faz parte do fenómeno de ver nos outros aquilo que temos dentro de nós e há quem tenha tão pouco dentro de si.
Eu acho que a falta não é necessária. O que ela fáz é pôr a pensar quem não pensa quando ela não existe. Quem não pensa provavelmente quando algo corre mal, arrepende-se.
Eu gosto de achar que a maturidade tambem é não nos arrependermos, como se já tivessemos pensado tudo antes do que pudesse vir ou não a acontecer, ou simplesmente não importasse o que lá viesse, porque simplesmente se sabe, porque se sente.
Sentir seja o que for, mais, porque se teve a falta, é feio. Para a poesia, para a filosofia, para a história de amor, para a arte. Mas nós reconhecemo-nos nesses pequenos momentos de encontro e de paixão. Nos momentos em que se fazem as pazes ou em que ele ou ela voltam de longe. Parece que é o que sentimos quando encontramos o guarda-chuva que pensávamos ter perdido, ou uma nota esquecida no casaco do inverno que não vestiamos há meses.
Eu percebo, é o voltar a pensar nela como uma coisa nova. Ou o constatar , obrigado pelos acontecimentos, que afinal até se gosta dela.
Não é um pouco triste para ti? Não é um pouco frágil?
Mas é o motor de muitos de nós, não é...? E talvez seja o nosso tambem.
Descasquei e era o caroço e a casca o teu texto, mas isto porque tu és o caroço e a casca do meu fruto, quem sabe não é por isso que não preciso de ausência.
Dirás que não. Que só escrevo assim porque sinto prazer em contrariar-te. E eu que posso fazer... ? Sou contra a ausência e contra a falta e contra o desejo que cresce com elas. Sou velha, só pode ser...
Foto - "My life so far" Colin Firth e Mary Elizabeth Mastrantonio