02 maio, 2005

Apólogo de Kafka


foto de StefanStenudd

Estava a pensar em coragem. Em algo que li de todas as virtudes se relacionarem umas com as outras e de todas se relacionarem com a coragem. Isto num pequeno tratado das grandes virtudes...
E acabei a pensar em Kafka, não sei se podería ou não deixar de ser. Fiquei a sorrir.
Aqui fica o apólogo de Kafka sobre um homem que busca a lei.

Diante da Lei está um porteiro. Um homem do campo acerca-se dele e pede-lhe que o deixe entrar na Lei. Mas o porteiro diz-lhe que agora não o pode deixar entrar. O homem reflete e pergunta se poderá, então, entrar mais tarde. «É possível», diz o porteiro, «mas agora não». Como o portão da Lei se encontra, como sempre, aberto e o porteiro se afasta para o lado, o homem inclina-se e olha para dentro através do portão. Assim que o porteiro repara nisso, ri-se e diz-lhe: «Se te atrai assim tanto, experimenta então entrar, apesar da minha proibição. Mas repara: eu sou forte. E sou apenas o porteiro mais ínfimo. De sala para sala há, porém, outros porteiros, cada um deles mais forte do que o outro. Até eu próprio já não consigo suportar o aspecto do terceiro porteiro».

Para resumir: o camponês espera a vida toda. O porteiro reconhece que ele já está próximo do seu fim. Para alcançar o seu ouvido moribundo, berra-lhe: "Aqui mais ninguém poderia ser admitido, pois esta entrada era apenas destinada a ti. Agora vou-me embora e fecho-a."

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, de facto é preciso coragem para passar alguns porteiros como esse aí que gosta de barrar a entrada á malta camponesa...
ah, mas deixam entrar muita trampa amiga da cidade. Ás vezes, com a coragem de alguns (entenda-se ao murro e pontapé, ou a tiro lixam-se e o camponês até lá entra :)
Ah mas tu és mulher, bonita, da cidade, tás safa. :)