22 fevereiro, 2006

Num mundo perfeito



Ali na TV alguêm condenado à morte diz que recebeu inumeras cartas de mulheres a querer sexo com ele, mulheres de todas as idades a escreverem para a prisão. Diz ele que a vida é imunda, as pessoas são estranhas e cheias de razões doentes às quais só chegamos quando queremos ter mesmo essa intenção. E agora as biografias interessantes são estas, de assassinos e loucos que arrastam as partes cruéis de quem tambem o é, noutra escala.
Estranhas... As partes estranhas...
Num mundo perfeito o ganso não teria adoecido.
Num mundo de gente menos imperfeita o último dia da nossa vida, sabendo ou não, seria mais ou menos igual aos outros...
Num mundo perfeito sentiríamos muito mais e concluiríamos muito menos.
Seríamos muito mais por nós e muito mais pelos outros. Em vez de quase nada por nós e muita conversa e papel assinado.
Represento se chamar as luzes ao meu lugar no palco, senão tens que me representar tu...
E só te engano se souberes, se não souberes nunca te enganarei.
(foto-Björk)

15 fevereiro, 2006

Que coisas de mim, aí deixei ficar, no porto?



Mas não costumas gostar de ficar aí...
Fiquei aqui a pensar de que maneira as ruas se confundem...
Ou te confundem...
E se as janelas que cansam, que me cansam, te cansam...
Que coisas de mim, aí deixei ficar?

(foto-Toronto)

09 fevereiro, 2006

Protège-moi, protège-moi




Protege-me do que eu quero, se perceberes como, ou tenta elevar a definição de duas mãos com meio compromisso, eu acredito, embora todas as vezes que me lembro, me impeça a mim mesma de lembrar com mais significado...

"Sommes nous les jouets du destin
Souviens toi des moments divins
Planants, éclatés au matin
Et maintenant nous sommes tout seuls
Perdus les rêves de s'aimer
Les temps où on avait rien fait
Il nous reste toute une vie pour pleurer
Et maintenant nous sommes tout seuls

Protect me from what I want
Protect me from what I want
Protect me from what I want
Protect me
Protect me"
(Placebo)
(foto - Uma Thurman e Quentin Tarentino)

25 janeiro, 2006

Beauty above all




Acabei o "singing songs" e fiquei com a menina de 4 anos a sorrir-me, com uma calma destas, igual à que tu tens.
Dei-lhe um olhar parecido ao teu... E depois fiquei a observar-te nas revistas antigas, nesta capa onde quase sorris.
E se te olhar mesmo muito, se o fizer durante um tempo, começa a parecer-me que não, que sería impossivel começares a sorrir a partir dali. E assim volto ao principio e vejo tanto nos teus olhos de amendoa...
É o tal oceano que escreveram que tu tinhas na alma.
Acho que poucos têm oceanos na alma, têm rios, mares, lagos ou poços, têm charcos que refletem o sol ou a lua, mas não têm assim uma imensidão que se detecta em tão pouco tempo.
Meg a angelical, pois sim.
E eu digo que não são os olhos...
É a maneira de olhares...
E é a vida que tu escolhes. E as voltas que dás e não dás. É todo o espaço que te habita quando te moves para ficares parada onde não temos como te ver.
É a frase que ficou escrita e que se aproveita pela eternidade porque não se escreveu nenhuma mais.
Enquanto o resto do mundo venera só as estrelas que morrem cedo e as que circulam nos percursos iluminados...

18 janeiro, 2006

O que ela ainda fáz



Certas pessoas são-nos impostas por sei lá que meios e direcções e temos que levar com elas apertando a barriga com o embaraço que em 2 minutos nos causam. A grande America tem disto. Ainda não dispensou a Joan. Agora é com erro atrás de erro que a vemos sorrir para as cãmeras. Já não interessa. Já é hábito enganar-se no nome de quem entrevista e é hábito não saber o que está a dizer, mas ficam as cores e as plásticas. E os entrevistados, coitados, ainda agradeçem qualquer coisinha simpática que ela diga. Eu vejo-a, encolho-me toda e enrrugo-me, é complectamente desconcertante. Mas vai ficando por aí de microfone na mão, a desculpa é que já são sete décadas (salvo erro) e dá para rir, alguns devem rir, outros sei que se enrrugam como eu.
Desejo-lhe muitos anos de vida, mas poucos já de trabalho!
Ó por favor!

(foto-Joan Rivers)

17 janeiro, 2006

Assim penso



O pensador, afundado em si mesmo. A pose longe do pensamento abstrato, muito real e definida, pose de quem está a pensar e sabe como se pensa.
Na minha pose, estou mais ausente. Pareço não acertar totalmente com a linha onde a ideia se equilibra, estou abstrata... Vão dizer como no expressionismo que isto me vem de uma qualquer revolta. Eu aceito...
Era só para dizer que penso...

(foto-Scarlett Johansson)

12 janeiro, 2006

Amar é pensar



Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
(Alberto Caeiro)

(foto-Kate Beckinsale)

06 janeiro, 2006

O exemplar Visconde de Valmont




Valmont, com o seu amor provisório, complectamente irresistivel. Tão representativo do que desperta os sentidos ao sexo masculino.
Este mesmo argumento foi o que serviu o filme "Dangerous Liaisons" mas este último com muito mais impacto no público. A mim marcou-me este Valmont subtil que parece acreditar poder mudar a sua essência após uma noite de amor. Respondem-lhe que um homem quando muda é para pior. E de facto as suas paixões sempre foram curtas em tempo.
Sobre os dois filmes, acho que o "Valmont" tem a beleza da arte no seu melhor ponto. E o "Dangerous Liaisons" é apenas um filme. Que resulta por uma data de razões mas que é "carregado" na cor e no gesto, na representação e na ironía... E que provavelmente resultou para o público em geral, pelas mesmas razões pelas quais me desagradou.
Diz-se que Milos Forman nunca optava por soluções simples, os seus personagens eram mais ambigúos e isso talvez lhes tivesse dado a ideia de Seres reais.
Agrada-me. Agradou-me. Continua a encantar-me.


"Possuirei aquela mulher; arrebatá-la-ei do marido que a profana; ousarei tomá-la ao próprio Deus que ela adora. Que delícia ser alternadamente o causador e o vencedor de seus remorsos! Longe de mim a idéia de destruir os preconceitos que a assaltam. Eles aumentarão minha felicidade e minha glória. Que ela acredite na virtude, mas para sacrificá-la a meus pés; que suas faltas a amedrontem sem poder detê-la; e agitada por mil terrores, não possa esquecê-los e dominá-los senão em meus braços. Então consentirei que ela me diga: 'Adoro-te'."

04 janeiro, 2006

Entre pairar ou levantar




Se em alguns dias não nos seguramos a nada, temos a vaga impressão de que estamos a pairar num lugar que deixámos adormecer quando eramos pequeninos.
A nossa melhor voz avisa-nos que acordar pode significar olhar de novo para as coisas. Pode significar...
Reconheço que me levanto um pouco à pressa, mas depois acredito que talvez seja a minha meta a fazer-me correr. Salto para as conclusões. Gosto de concluir. E gosto de concluir depressa demais.
Tenho imensa pena. E depois tento segurar-me, só que quando é tarde fico naquela dúvida estranha entre pairar ou levantar de novo.
E só sou mais forte que isso,
nas poucas vezes em que isso não é mais forte que eu.

(foto-Madonna)

25 dezembro, 2005

Corpse bride




...Então ela fez um voto debaixo daquela arvore.
E ele apareceu, assim estranhamente.

21 dezembro, 2005

A arte de perder




The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.

Elizabeth Bishop

(Susanne Grinder fotografada por Henrik Stenberg)

17 dezembro, 2005

Assim como um espelho de mim




Gostar ou não... Amar, não amar... E o quê?
O que é que cada um ama? Os olhos, a postura, o sorriso?
O que existe no todo, ou o que existe só numa parte...
Vem da alma ou de outro lugar qualquer, o amor?
Na verdade não importa sempre, porque a dedicação ao outro Ser é o que depois nos fáz dizer que o amamos.
Conheço-te na multidão, mas podias ser outro qualquer. Fáço questão de te evidenciar dos outros dentro de mim... Para o mundo somos todos iguais para os corações uns existem outros não. E por vezes vem o tempo ou a dor e muda tudo. Renascemos das cinzas ou agarramo-nos ao passado porque não queremos seguir em frente.
O "por acaso" é que não tem piada, por isso tento ver nas proximidades ou nos desejos algo mais do que aquilo que se vê apenas. Como se pudesse ver o próprio sentimento assim como um espelho de mim, o que é que existe ali que me atrai e se está lá a fonte para me manter atraída ou se é só alguem que os meus sentidos dizem ser bonito.
Gosto de olhar e sentir é bonito de mais, sabes?
Bonito de mais, o meu corpo a dizer-me que não há qualquer explicação.
Escolhi a foto antes de ter acabado de escrever, ela não é um bom exemplo do que para mim é bonito de mais, mas é um bom exemplo do que é bonito, provavelmente na multidão não teria o meu abraço.
Se é façil investir em pessoas bonitas? Claro.
Sei que te ficas pelo patamar do "um pouco por acaso",a onda de perfume que nos embriaga os sentidos. A cor do vestido na musica.
Repara... provavelmente até somos todos assim, só que eu não consigo reconhecer...
(foto - Nicole Kidman)

13 dezembro, 2005

Colin Firth hands the Big Noise petition to Peter Mandelson




Why is Fair Trade important?

International trade flows have tripled in the last twenty years, but the benefits of this trade are unequally shared.

((Oxfam estimates that as a result of improved corporate behaviour, poor coffee farmers have benefited by an approximately £9 million increase in incomes – a tangible benefit of your campaigning. But clearly there is much more work for the coffee industry still to do.))

03 dezembro, 2005

Camille



Marguerite: Are you following me?
Armand: Yes, you, well you did smile at me a moment ago, didn't you?
Marguerite: Well, you tell me first whether you smiled at me or at my friend [Olympe].
Armand: What friend?
Marguerite: You didn't even see her?
Armand: No.
Marguerite: That's very nice.
Armand: I was just wondering if you'd ask me to sit down if I knocked at the door of the box.
Marguerite: Why not? We really seemed fated to meet this evening, didn't we?
Armand: Fate must have had something to do with this. I've hoped for it so long. You don't believe me.
Marguerite: No.
Armand: The first time I saw you was a year and a half ago. You were in an open carriage and dressed in white. I saw you get out and go into a shop in La Place de la Bourse.
Marguerite: Yes, it might have happened. I used to go to a dressmaker in La Place de la Bourse.
Armand: You were wearing a thin dress with miles of ruffles, a large straw hat, an embroidered shawl, a single bracelet and heavy gold chain. And, of course, the camellias at your waist.
Marguerite: You have a marvelous memory, haven't you?
Armand: The next time was at the Opera La Comique. You were sitting in a box with a fur coat on, and Gaston - a chap whom I know who knows you, said Marguerite's been ill. And it hurt me. Next time...
Marguerite: Well, tell me, if all you say is true, why have you never spoken to me before?
Armand: In the first place, I didn't know you.
Marguerite: You didn't know me tonight.
Armand: No, but after you smiled at me, I knew you wouldn't mind.
Marguerite: And now, since you've met me?
Armand: Now I know that I love you - and have loved you since that first day.




"Alas, we made haste to be happy, as if we knew that we were not to be happy long. (...) under the shadow of the trees, we breathed together that true life which neither Marguerite nor I had ever known before." (Alexander Dumas: Camille)

(foto-Greta Scacchi e Colin Firth - Camille -1984-)

22 novembro, 2005

Aqui e lá




Este mistério das minhas olheiras que vêm com a chuva...

(foto-Colin firth em Budapeste - Premiere WTTL)

19 novembro, 2005

Múltipla



"Sinto-me múltiplo, sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas".
Fernando Pessoa e a eterna pluralidade, que se ordenava para o Uno, como ele dizia.
O universo é plural mas é Uni-verso.
E assim é possivel tambem me encontrar se me dividir.
Múltipla. Cheia de veias de corpos que ajem diferentes do meu. E que eu digo não ser capáz... E que eu digo ser capáz.
Mutável... Múltipla... Ciente das diferênças de mim para mim.
"Eu plural e contudo unívoco"

16 novembro, 2005

You're beautiful



Não sei como se passa.
Se há estradas dentro das cabeças das pessoas... Se é verdade que podem dizer "Estás bonita" sem ser por quererem foder-me logo ali contra a parede.
Às vezes "Estás bonita" não passa de mais uma frase entre muitas, pode querer dizer que repararam numa pequenina mudânça de penteado.
Deve ter mais a ver com o que se trás na pele, no cabelo, nos olhos...
Porque bonitos somos ou não e não andam a mudar de opinião.

(foto - Penelope Cruz)

06 novembro, 2005

La vérité nue



Verdade nua. Duas palavras juntas que têm o poder de nos fazer intensificar a verdade, como se pudesse haver uma verdade e uma semi-verdade. E aquilo que é verdade pode ser mais verdadeiro? Mais nú?
Porque não somos Seres verdadeiros, porque andamos muito vestidos.
E em cima da roupa ainda há a moda e os sorrisos, gostamos destas frases definitivas.
A verdade aqui é imperativa.
É nua!
Treme de frio até aos ossos.

(Poster Francês - Where The Truth Lies)

04 novembro, 2005

E depois outro beijo



Trocávamos de lugar, mas não podemos...
Ouvias-me falar o que tu falas e percebias como invisto o amor quando o meu amor é um investimento.
Claro que não tenho sempre a certeza do que te importa. Não serias magoado pelas mesmas palavras que me magoam a mim e aí foi um erro dizer-te que bastava mudarmos de lugar para que me passasses a entender.
O que sei é que não te digo as mesmas coisas que me dizes e que isso já te põe no lugar confortável que só deixa de o ser quando me ponho a falar demais sobre o que tens e que eu desgosto, mas mesmo aí tu interpretas como sendo eu a magoar-te, as tais manifestações de raiva e isso retira-me a culpa. Como é confortável alguêm te magoar apenas porque te quer atingir.
Deves ter dentro de ti a tal bola de sabão bem cheia de cor que te fáz acreditar no meu amor.
E eu tenho a bola que tenho, sei lá com que tamanho que me fáz acreditar no teu. Gosto que ela dependa ( a minha fé no teu amor) das tuas percepções de sentimento pelas outras mulheres que amas. Quando não for assim, provavelmente serei como tu. E ainda bem que não sou. Sinto que tenho um espaço... E que esse espaço tem uma sombra, reconheço-a sem que ninguêm me diga que sombra de pessoa é. É essa sombra que eu consigo ou não amar, com ou sem ciúmes.
A importância não me chega em embalagens fechadas às quintas e sábados pelo correio internacional.
Entendo isso como uma reacção a tudo o que se passa à tua volta e acho caracteristico de uma forma de amar que não sendo a minha não posso achar condenável. Só posso dizer que formas de amar eu prefiro e foi isso que fiz, é isso que faço, mais constantemente do que devia, eu sei, e provavelmente nem sempre da melhor forma.
Defeitos... São... Existem deste tamanho. Outros maiores. São bons e maus. Tornam tudo bom ou mau à minha volta. E não é assim com toda a gente?
Ora ainda bem. Já me estavas a fazer sentir estranha.


(Colin Firth, Mena Suvari, - Trauma)

01 novembro, 2005

Never try to trick me with a kiss



Never try to trick me with a kiss
Pretending that the birds are here to stay;
The dying man will scoff and scorn at this.

A stone can masquerade where no heart is
And virgins rise where lustful Venus lay:
Never try to trick me with a kiss.

Our noble doctor claims the pain is his,
While stricken patients let him have his say;
The dying man will scoff and scorn at this.

Each virile bachelor dreads paralysis,
The old maid in the gable cries all day:
Never try to trick me with a kiss.

The suave eternal serpents promise bliss
To mortal children longing to be gay;
The dying man will scoff and scorn at this.

Sooner or later something goes amiss;
The singing birds pack up and fly away;
So never try to trick me with a kiss:
The dying man will scoff and scorn at this.

Sylvia Plath